21/07/14
3º Bimestre
1. REFLEXÃO
SOBRE HUMILHAÇÃO:
A humilhação é um sentimento de desigualdade. Para José Moura Gonçalves
Filho, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), a humilhação
consiste em uma modalidade de angústia disparada pelo impacto traumático da
desigualdade de classe, isto é, a angústia que se sofre quando alguém se depara
com um abismo chamado desigualdade, o que corresponde à percepção de que,
enquanto um está em posição superior, o outro se coloca, violentamente, em uma
posição inferior.
A desigualdade experimentada do lado de fora é internalizada como
sofrimento, ao qual muitas pessoas já estão habituadas. Dessa maneira, além da
humilhação crônica, que atinge os pobres, como resultado das desigualdades
econômicas e políticas, experimenta-se uma espécie de angústia assumida pelo
humilhado nas mais variadas manifestações de sua existência.
Mas quando uma pessoa é humilhada? Quando se mostra a ela uma diferença
que a põe em situação de inferioridade. Por exemplo, quando um chefe grita com
o funcionário, quando um adulto ou jovem ignora ou maltrata um idoso, quando
uma mulher é agredida pelo marido, quando uma pessoa mais forte ameaça outra
menos forte. Enfim, existe em nossa sociedade uma hierarquia constante que leva
o humilhado a sentimentos que o agridem, como susto, medo, pavor, tristeza,
ódio, culpa, solidão, os quais, muitas vezes, são interiorizados pelas pessoas.
Na sociedade, todos são, em alguma medida, humilhados, mas, no caso das
pessoas mais pobres, isso pode ser constante e ocorrer da infância à velhice. A
humilhação contínua vai se acumulando e moldando as pessoas, levando-as a ter
uma baixa autoestima e tornando-as menos sensíveis, menos solidárias e até
mesmo violentas.
“A humilhação é uma modalidade de angústia que se dispara a partir do
enigma da desigualdade de classes. Angústia que os pobres conhecem bem e que,
entre eles, inscreve-se no núcleo de sua submissão. Os pobres sofrem
frequentemente o impacto dos maus-tratos. Psicologicamente, sofrem
continuamente o impacto de uma mensagem estranha, misteriosa: ‘vocês são
inferiores’. E o que é profundamente grave: a mensagem passa a ser esperada,
mesmo nas circunstâncias em que, para nós outros, observadores externos, não
pareceria razoável esperá-la. Para os pobres, a humilhação ou é uma realidade
em ato ou é frequentemente sentida como uma realidade iminente, sempre a espreitar
lhes, onde quer que estejam, com quem quer que estejam. O sentimento de não
possuírem direitos, de parecerem desprezíveis e repugnantes, tornasse-lhes
compulsivo: movem-se e falam, quando falam, como seres que ninguém vê.”
2. REFLEXÃO SOBRE O RACISMO:
Para iniciar o estudo ético e político de temos atuais nos quais o
filosofo consciente está trabalhando, você pode propor a seguinte questão para
debate? Existe racismo no Brasil? Essa questão
deve nortear tanto os exercícios como a literatura dos textos. A presença do
racismo no Brasil não é óbvia e, quando é afirmada, apresenta característica pouco
critica. O texto a seguir, do sociólogo Jair Batista da Silvam especialista em
racismo no Brasil, apresenta-nos uma visão geral do problema. Tome-o como orientação
geral. Proponha a leitura do texto explicando a classe o racismo brasileiro
multiforme, destacando que a reflexão filosófica pode ajudar na compreensão e
no questionamento sobre causas e formas de superação das manifestações racistas
presentes em nossa sociedade.
A PARTICULARIDADE DO RACISMO NO BRASIL:
“Para oprimir e submeter, especialmente, os negros, o racismo no Brasil
não necessitou de regras formais de discriminação, de desigualdade e de
preconceito racial. O racismo como ideologia emprega e se alimenta de práticas
sutis, de nuances e de representações que não precisam de um sistema rígido e
formalizado de discriminação. Ao contrário das experiências norte-americana ou
sul-africana que estabeleceram regras claras de ascendência mínima para definir
seus grupos sociais, nas quais, por exemplo, uma gota de sangue negro era mais
que suficiente para macular a suposta pureza racial dos brancos. As formas de
classificação racial e a eficácia do racismo no Brasil nutriram-se sempre das
formas mais maleáveis, mais flexíveis para atingir suas vítimas, porém essas
sutilezas não deixam de ser igualmente perversas e nocivas para os indivíduos e
coletividades atingidos.
De qualquer forma, essa sutileza, que informa o tipo de racismo presente
no Brasil, segue de mãos dadas com as premissas de ideológica “democracia
racial” que pretende afirmar e defender a inexistência do racismo, precisamente
porque no país não há posições ou locais sociais que negros não possam ocupar.
Não há cargo, posto de trabalho, lugar, emprego, profissão etc. em que os
negros não possam competir. Todavia, basta uma breve observação na paisagem
social para se verificar que a democracia racial ainda não chegou para os negros.
Eles são minoria nas posições de maior reconhecimento, nas profissões melhor
remuneradas, nos segmentos de melhor renda etc. Especialmente a mulher negra,
que ocupa uma posição social extremamente desvantajosa quando comparada com o
conjunto da população branca do país. Frequentemente ela exerce atividades de
menor reconhecimento social, menor retorno salarial e de menor exigência de
qualificação.
Para transformar essa situação, tão comum na paisagem social do Brasil,
torna-se necessário a adoção de amplas políticas públicas que busquem minimizar
as brutais desigualdades de renda, escolaridade, emprego, moradia, saúde etc.
que afetam mais diretamente os negros. O que sugere uma substantiva
transformação do desenho e da execução das políticas formuladas pelo Estado.
Transformação que garanta efetivamente à maioria da população, especialmente
aquela afrodescendente, o acesso aos elementares direitos de cidadania. Por
exemplo, a ampliação das oportunidades de ensino deve vir acompanhada de
mecanismos de manutenção dos estudantes nas instituições de ensino.
Pelo que se disse, reconhecer a existência e a eficácia da forma de
racismo praticada no Brasil significa lutar para alcançar para a maioria da
população brasileira, e para a população afrodescendente, em especial, o
reconhecimento social de serem sujeitos portadores de direitos e igual
dignidade humana. Reconhecimento que o racismo e a tão decantada, mas jamais
praticada, democracia racial brasileira, insistem, sobretudo, em negar aos
negros brasileiros”. (SILVA, Jair Batista da. O que é racismo no Brasil.
Revista Aulas)
A relação do racista com a sua vítima está ligada, diretamente, ao
pensamento de dominação de um povo sobre outro, de um indivíduo sobre o outro.
A atitude racista é uma atitude de dominação, característica dos processos de
colonização que empreenderam diferentes impérios ao longo da história da
humanidade. A dominação dos europeus contra africanos e americanos levou à
escravização de negros e índios que tão bem conhecemos no Brasil. O racismo não
apenas mata, mas deixa morrer e faz matar.
Por isso a escola deve valorizar atitudes antirracistas, para construir
consciência e favorecer práticas de valorização da vida. Assim, o antirracismo se traduz em duas
condições, uma ética e outra política. A condição ética trata de refletir sobre
si para não cometer a violência. A condição política se ocupa de evitar ações
racistas de outras pessoas e exigir que as autoridades promovam a inclusão das
vítimas, participando ou se solidarizando com grupos representativos dessa
minoria – que é minoria no usufruto dos seus direitos e não em termos de
números.
3. Reflexão sobre
diferenças e semelhanças entre homens e mulheres – identificar o protagonismo
do feminismo no século XX de algumas mulheres que – cada aluno deve fazer uma pesquisa
sobre cada uma dessas mulheres – observando o protagonismo – o trabalho social –
os valores e princípios de cidadania que tais mulheres nos deixaram como legado:
1-Madre Tereza de Calcuta/2-Dr.Zilda Arnes/3-Irmã Dulce/4-Princesa Diana/5-Irmã
Dorothi;
4. REFLEXÃO
SOBRE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO:
O objetivo desta Situação de
Aprendizagem é introduzir o debate sobre filosofia da educação a partir do
conceito adorniano. Há professores que veem como algo que não dá certo, onde
não se tem apoio nem salario, nem instrumentos suficientes para ensinar, o que
leva ao desencanto com a profissão. Mas há, também, os otimistas, que gostem
do que fazem. Por isso, a sala dos professores torna-se o lugar mais
contraditório da escola. Muitos diretores colocam-se na ponte entre as
políticas, os compromissos burocráticos, os problemas rotineiros, os pais, os funcionários,
os professores, os alunos, os vizinhos da escola. Enfim, cada agente da educação pública tem os seus
problemas e às suas responsabilidades. Se o ânimo e seu desânimo. O fato é que
precisamos encontrar criticamente fatores exercer nossas responsabilidades, o
que só tem sentido se for feito em conjunto.ESCOLA TRADICIONAL: esta escola se origina na ideia de que o professor fala e os alunos aprende. O esforço maior é o uso da memória, é preciso acumular conhecimentos, decorando nomes, datas, fórmulas e tradições. O professor ensina, o aluno decora, o professor cobra na prova, oferecendo prêmios aos melhores e incentivando a competitividade. Outro lado importante é a disciplina rígida. Ao se comportar mal, o aluno é excluído e punido e não educado, ou seja, não é considerado como o aluno a ser orientado tendo em vista a mudanças cognitivas e de atitudes.
ESCOLA NOVA: o aluno é o centro
do processo, a partir da compreensão do seu aspecto psicológico. A escolha dos
conteúdos visa ao interesse dos alunos. O professor é um facilitador, ele
desperta a curiosidade e o aluno sai ao encalço de sua descoberta. O
fundamental é a compreensão, e não a memorização dos conteúdos, isto é,
aprender fazendo. As avaliações não supõem competividade, mas cooperatividade. O
mais importante é um ajuda o outro. A prática do dia a dia se dá em
laboratórios, hortas, passeios, jogos, oficinas e outros. A disciplina é
construída em processo de valorização da autonomia, o aluno deve entender que é
o protagonista de como alcançar seus objetivos.
ESCOLA TÉCNICA: essa escola quer
dar ao aluno o suporte para trabalhar na sociedade industrial. Seu objetivo era
transformar o estudante e mão de obra qualificada. Seu principal conteúdo é científico
e tecnológico, sem tratar com profundidade da subjetividade. O importante é
aprender a profissão, ser cobrado objetivamente se eu uso. O grande problema desse
estilo de escola é a razão instrumental que submete a vida ao mercado. O aluno
não é mais uma pessoa, é um funcionário, um técnico profissional.
EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO:
“É bastante conhecida a minha concordância com a crítica ao conceito de
modelo ideal. Esta expressão se encaixa com bastante precisão na esfera do
jargão da autenticidade que procurei atacar em seus fundamentos. Em relação a
essa questão, gostaria apenas de atentar a um momento específico no conceito de
modelo ideal, o da heteronomia, o momento autoritário é imposto a partir do
exterior. Nele existe algo de usurpador. É de se perguntar de onde alguém se
considera no direito de decidir a respeito da orientação da educação dos
outros. As condições – provenientes no mesmo plano de linguagem e de pensamento
ou de não pensamento – em geral também correspondem a esse modo de pensar. Encontram-se
em contradição com a ideia de um homem autônomo, emancipado, conforme a
formulação definitiva de Kant na exigência que todos os homens tenham que se
libertar de sua autoinculpável menoridade.
A seguir, e assumindo o risco, gostaria de apresentar minha concepção
inicial de educação. Evidentemente, não a assim chamada modelagem de pessoas,
porque não temos o direito de modelar pessoas a partir do seu exterior; mas
também não a mera transmissão de conhecimentos, cuja característica de coisa
morta já foi mais do que destacada, mas a produção de uma consciência
verdadeira. Isso seria inclusive da maior importância política; sua ideia se é
permitido dizer assim, é uma exigência política, isto é, uma democracia com o
dever de não apenas funcionar, mas também operar conforme o seu conceito
demanda pessoas emancipadas. Uma democracia efetiva só pode ser imaginada em
uma sociedade de quem é emancipado.
Numa democracia, quem defende ideais contrários à emancipação, e,
portanto, contrários à decisão consciente independente de cada pessoa em
particular, é um antidemocrata, até mesmo se as ideias que correspondem a seus
desígnios são difundidas no plano formal da democracia. As tendências de
apresentação de ideias exteriores que não se originam a partir da própria
consciência emancipada, ou melhor, que se legitimam diante dessa consciência,
permanecem sendo coletivistas-reacionárias. Elas apontam para uma esfera a que
deveríamos nos opor não exteriormente pela política, mas também em outros
planos muito mais profundos.” (ADORNO, Theodor. Educação e emancipação.
Tradução Wolfgang leo Maar. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p
141-142.)
COMENTÁRIO AO TEXTO:
Adorno se refere ao texto de Kant em resposta à pergunta: O que é
ilustração? Segundo o qual um homem emancipado é um homem sem guia, isto é,
minoridade é viver sem a independência que vem do uso da racionalidade. O que
impede o homem de assumir a sua maioridade é a preguiça e a covardia. Preguiça
de ler, de aprender, de pesquisar, de ouvir e de se cansar em busca de uma
maneira melhor de viver. Covardia em não enfrentar os problemas, os erros, as
decepções, conduzindo à preferência de se manter como uma espécie de criança
imatura. Para tudo se necessita de outro dizendo o que se deve ser e fazer. Para
quem perguntamos as coisas fundamentais da vida? Quem é o guia? Algum familiar,
como o pai ou a mãe? O professor, o pastor, o padre, o político, o livro, o
filme? A minoridade é uma prisão. A maioridade é a libertação. A liberdade vem
a partir do momento em que se assume a racionalidade, ou melhor, o
esclarecimento. A escola deve ser o palco do esclarecimento para, então, se
tornar geradora de cidadania. O sinal de que isso está acontecendo é o uso
público da razão. Isso significa assumir posições refletidas, o que é diferente
do uso privado da razão, que é responder racionalmente a situações
corriqueiras, como se calar diante da autoridade. Quem tem coragem de usar a
razão? Quem tem vontade de superar a si mesmo? Quem usa a razão só para não ter
problemas pessoais (uso privado da razão)? Quem usa a razão enfrentando o mundo
para melhorá-lo (uso público da razão)? Os oficiais dizem: não questione,
pague. Os religiosos dizem: não questione, creia. A televisão diz: não
questione, assista, compre e seja. O político diz: não questione, vote. Entretanto,
a pessoa emancipada questiona abertamente, sabe o que quer e precisa disso para
ser livre. Ela quer saber o motivo, ela precisa entender para aceitar ou não o
que lhe é falado, ordenado. Ela usa os estudos, o raciocínio, a imaginação e a
crítica para seguir o seu caminho. Dessa maneira, a melhor escola é aquela que
permite questionamentos mais profundos.